Do Estilo ao Papel: Uma Nova Perspectiva sobre a Liderança Organizacional

Este artigo propõe uma reflexão sobre a transição do conceito tradicional de estilo de liderança para o de papel de liderança. Argumenta-se que, em contextos organizacionais dinâmicos e complexos, a eficácia do líder não se baseia em um estilo fixo, mas na capacidade de interpretar o momento da organização e exercer o papel mais adequado às circunstâncias, ao nível de maturidade da equipe e ao estágio de desenvolvimento estratégico. O texto dialoga com autores contemporâneos de liderança adaptativa e situacional, propondo um novo olhar para a prática da liderança nas empresas do século XXI.

LIDERANÇA

Autor: Thiago Loner

10/9/20253 min read

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão sobre a transição do conceito tradicional de estilo de liderança para o de papel de liderança. Argumenta-se que, em contextos organizacionais dinâmicos e complexos, a eficácia do líder não se baseia em um estilo fixo, mas na capacidade de interpretar o momento da organização e exercer o papel mais adequado às circunstâncias, ao nível de maturidade da equipe e ao estágio de desenvolvimento estratégico. O texto dialoga com autores contemporâneos de liderança adaptativa e situacional, propondo um novo olhar para a prática da liderança nas empresas do século XXI.


1. Introdução

Durante décadas, os estudos sobre liderança foram guiados pela ideia de estilos de liderança, que classificam o comportamento dos líderes em categorias como autocrático, democrático, liberal, transformacional ou servil (Lewin et al., 1939; Bass, 1990). Embora úteis para a compreensão de tendências comportamentais, essas classificações tendem a reduzir a liderança a um conjunto estático de traços pessoais.

Entretanto, no atual contexto empresarial, marcado por volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (o ambiente VUCA), surge a necessidade de um conceito mais dinâmico e contextual: o de papel de liderança.

Este artigo propõe que o líder eficaz é aquele capaz de mudar o papel que exerce conforme o momento da organização, as pessoas envolvidas e o grau de maturidade do sistema.

2. Limitações do Conceito de Estilo de Liderança

A noção de estilo pressupõe estabilidade comportamental — uma espécie de assinatura pessoal. Contudo, a prática organizacional demonstra que a rigidez de um estilo único pode gerar desalinhamento com as demandas contextuais.

Por exemplo, um líder com “estilo coaching” pode ser altamente eficaz em períodos de desenvolvimento de equipe, mas ineficiente em cenários de crise, nos quais é exigido direcionamento rápido e decisões centralizadas.

Portanto, a liderança contemporânea requer menos sobre “ser de um jeito” e mais sobre “agir de modo coerente com o contexto”.

3. O Papel de Liderança como Concepção Dinâmica

O conceito de papel remete a algo situacional, fluido e interdependente. O líder, nesse sentido, atua como um intérprete do sistema organizacional, assumindo diferentes papéis conforme a necessidade do momento: condutor, facilitador, mentor, estrategista ou guardião da cultura.

Essa visão dialoga com a teoria da liderança situacional (Hersey & Blanchard, 1969), mas vai além dela ao incluir a dimensão sistêmica e adaptativa defendida por Heifetz (1994), para quem liderar é “trabalhar no sistema, sobre o sistema e pelo sistema”.

Assim, o papel do líder não é um reflexo de sua preferência pessoal, mas uma resposta consciente às demandas vivas do contexto.

4. O Contexto como Determinante do Papel de Liderança

A eficácia da liderança, portanto, depende da capacidade de leitura contextual.
Alguns fatores que influenciam o papel a ser exercido incluem:

  • Momento da empresa: crise, crescimento, transição, consolidação.

  • Maturidade da equipe: autonomia, competência e engajamento.

  • Clareza estratégica: visão, propósito e métricas de direção.

  • Cultura organizacional: valores compartilhados e padrões de comportamento.

Essa leitura exige inteligência emocional, visão sistêmica e flexibilidade comportamental — competências-chave da liderança contemporânea.

5. Implicações Práticas e Conclusões

A transição da lógica de estilos para papéis implica uma profunda mudança no desenvolvimento de lideranças dentro das organizações. Programas de formação devem menos focar em “moldar” líderes e mais em desenvolver a consciência de papéis e contextos.

Conclui-se que liderar não é expressar um estilo pessoal, mas desempenhar o papel que o sistema precisa naquele instante.
O líder do futuro é aquele que compreende que sua função é servir ao propósito da organização por meio da adaptação contínua — e não se aprisionar em um rótulo comportamental.

Referências Bibliográficas

  • Bass, B. M. (1990). From transactional to transformational leadership: Learning to share the vision. Organizational Dynamics.

  • Heifetz, R. A. (1994). Leadership Without Easy Answers. Harvard University Press.

  • Hersey, P., & Blanchard, K. H. (1969). Life cycle theory of leadership. Training and Development Journal.

  • Lewin, K., Lippitt, R., & White, R. K. (1939). Patterns of aggressive behavior in experimentally created social climates. Journal of Social Psychology.

  • Yukl, G. (2013). Leadership in Organizations. Pearson Education.

Citação recomendada:

Loner, T. (2025). Do Estilo ao Papel: Uma Nova Perspectiva sobre a Liderança Organizacional.