Princípios e Valores nas Organizações: Ente a permanência e a mutabilidade
O presente artigo discute a distinção conceitual entre princípios e valores no contexto organizacional, enfatizando a importância de compreender suas diferenças para a construção de uma filosofia institucional sólida. Defende-se que os princípios constituem elementos perenes e inegociáveis, relacionados ao que é certo, enquanto os valores representam aspectos mutáveis, que traduzem o que é importante em cada fase da trajetória organizacional.
CULTURA ORGANIZACIONAL
Thiago Loner
9/8/20252 min read


1. Introdução
A identidade e a cultura organizacional têm sido objeto central de investigação nos estudos de gestão, especialmente em um ambiente marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (BENNETT; LEMOINE, 2014). A clareza quanto aos fundamentos que sustentam uma organização é decisiva para sua sustentabilidade e competitividade. Nesse contexto, a distinção entre princípios e valores torna-se essencial.
Embora frequentemente utilizados como sinônimos, princípios e valores apresentam naturezas distintas. A não observância dessa diferenciação pode conduzir a equívocos estratégicos, seja pela rigidez excessiva na manutenção de valores, seja pela fragilidade ao relativizar princípios.
2. Princípios como fundamento perene
Os princípios organizacionais configuram-se como elementos normativos de caráter ético e universal, orientando comportamentos e decisões independentemente das circunstâncias. Para Collins e Porras (1994), empresas visionárias preservam um núcleo ideológico imutável que constitui fator determinante para a longevidade corporativa.
Schein (2010) argumenta que a cultura organizacional se sustenta em pressupostos básicos, inegociáveis, cuja negligência compromete a coesão interna. Assim, os princípios correspondem ao que é certo, sendo a base inalienável de qualquer organização.
3. Valores como elementos adaptativos
Diferentemente dos princípios, os valores organizacionais expressam o que é considerado importante em determinado estágio da organização. Tais valores refletem prioridades estratégicas, demandas sociais e expectativas dos stakeholders em contextos específicos.
Kotter e Heskett (1992) identificam que culturas de alto desempenho são aquelas capazes de revisar seus valores em função das mudanças ambientais, preservando, entretanto, sua identidade central. Nesse sentido, os valores são dinâmicos e variam de acordo com o ciclo de vida organizacional.
A mutabilidade dos valores não implica incoerência, mas sim a capacidade de adaptação necessária para assegurar relevância e competitividade.
4. Discussão
A confusão entre princípios e valores gera riscos organizacionais relevantes. Quando valores são tratados como princípios, a organização se torna rígida e resistente à mudança. Por outro lado, quando princípios são tratados como valores, relativiza-se a ética fundamental da organização, comprometendo sua reputação e legitimidade.
Portanto, a filosofia institucional deve distinguir claramente os dois conceitos: princípios como alicerce imutável e valores como elementos contextuais e transitórios. Essa distinção assegura equilíbrio entre permanência e adaptação, bem como entre coerência e inovação.
5. Conclusão
A diferenciação entre princípios e valores possui implicações significativas para a teoria e a prática da gestão. Reconhecer que princípios são imutáveis e vinculados ao que é certo, enquanto valores são mutáveis e relacionados ao que é importante, é fundamental para organizações que desejam sustentar-se no longo prazo.
No cenário contemporâneo, marcado por rápidas transformações, a sustentabilidade organizacional depende da solidez dos princípios e da flexibilidade dos valores. A articulação entre esses dois elementos constitui o alicerce invisível das organizações que prosperam.
Referências
BENNETT, Nathan; LEMOINE, G. James. What VUCA really means for you. Harvard Business Review, v. 92, n. 1/2, p. 27–42, 2014.
COLLINS, Jim. Good to great: why some companies make the leap and others don’t. New York: HarperCollins, 2001.
COLLINS, Jim C.; PORRAS, Jerry I. Built to last: successful habits of visionary companies. New York: Harper Business, 1994.
KOTTER, John P.; HESKETT, James L. Corporate culture and performance. New York: Free Press, 1992.
SCHEIN, Edgar H. Organizational culture and leadership. 4. ed. San Francisco: Jossey-Bass, 2010.